segunda-feira, 26 de agosto de 2013

24º dia - 26 de agosto

Às 05h30 era grande a azáfama à volta do mata-bicho e na cozinha também, na preparação de sandes que compuseram o farnel do dia.
Com apenas uma actividade para desenvolver com os jovens do Centro Juvenil na terça, tiramos o dia de hoje para visitar mais alguns locais de presença dehoniana em Moçambique e conciliamos isso com uma visita à Reserva Natural do Gilé, criada em 1932 com o objectivo principal de proteger o elefante e o rinoceronte negro.
A partida prevista para as 06h00, acabou por acontecer às 06h30 o que é óptimo, pois em 30 minutos houve tempo para mudar um pneu, abastecer um dos carros (com bomba manual) e lavar os pára-brisas. Todos a bordo e partimos com a particularidade de termos dois padres aos comandos das viaturas: o nosso pastor voluntário, pe. Juan e o pe. Messias, moçambicano e residente na missão do Alto Molócuè.
Arrancamos e após 10 minutos de alcatrão entramos em estrada de terra. Só voltaríamos a sentir alcatrão às 22h30. Entre saltos e pulos ficamos espantados com a resistência das Toyotas Hilux 4x4.
Pela estrada que liga a Nacional 1 no Alto Molócuè, em Malua, seguimos em direcção a Uape, onde entramos na Reserva Natural do Gilé após 3h30 de viagem. A expectativa era grande pois apenas um de nós já tinha visitado uma reserva natural. No entanto, tínhamos sido prevenidos ainda em casa que a reserva estava em fase de repovoamento animal, devido a ter sido devastada pela caça indiscriminada, no período da guerra civil, pelo que teríamos poucas hipóteses de vermos vida selvagem.
Logo no posto de controle à entrada da reserva, esta situação de míngua de vida selvagem foi confirmada pelos guardas. De facto apenas recentemente foram introduzidos um bando de 5 leões e impalas. Em Setembro será a vez de aparecerem por ali girafas e zebras. Considerando que a área da reserva é de 2100km2, ou seja três vezes a área da ilha da Madeira pudemos adivinhar que cinco leões… nem vê-los. Mas perseveramos J
E assim, percorremos 2h30 de reserva sem avistar nenhum animal… parecia que eramos mais os que estavam dentro dos carros do que na reserva. À falta da bicharada, deslumbrava a enorme área de mancha florestal inabitada que recebendo os raios de sol matinal, projectava uma luz que em todo este país nos fascina. Após este tempo chegamos ao acampamento turístico da Reserva do Gilé que recebeu o nome de Acampamento do Lice (4 tendas estilo safari) devido à proximidade do Rio Lice, um lugar especial entre os Rios Malema e o Lice, pela sua particular beleza cénica, e por ali perto passarem com frequência alguns animais, mas que hoje teimavam em primar pela ausência. Como se diz por cá: “Nada!”.
Após uma paragem de 45m com salto ao rio para chamar crocodilos ;) tivemos de partir pois o dia ainda tinha muita estrada para palmilhar em direcção a Mualama, onde visitamos a paróquia do Cristo Rei, antiga missão dehoniana estabelecida em 1948 e 5 anos depois iniciavam-se as obras de uma grande igreja que hoje se apresenta em estado de muito degradado (novamente aqui as nacionalizações e guerra civil tiveram o seu impacto) mas que a respectiva afectação à diocese permitiu já a recuperação do telhado, seguindo-se paredes, portas, janelas, tudo… tendo o pe. Rito Alberto nos recebido entusiasticamente.
Dali saímos para Nabúri, para visita a outra missão dehoniana, fundada em 1963 e designada paróquia de São Paulo Apóstolo, com uma igreja humilde, e apenas uma casa, residência dos padres.
Ainda antes de Nabúri, um entroncamento fez-nos parar. Uma seta apontava “Pebane”. Era complicado. Mais uns 90 ou 100km tornavam a viagem mais desgastante e o regresso madrugada fora desaconselhado. Paciência.
A partida de Nabúri acontece já com a tarde avançada não esquecendo que aqui às 17h30 já se faz escuro o dia e às 18h está noite. O Gilé (cidade) é o destino e aqui chegamos já de noite (19h00) não sem antes passarmos por pontes de troncos soltos, outras com a falta deles e que requeriam toda a atenção dos condutores e uma mesmo que obrigou à saída de um de nós do carro para ajudar na passagem pois não havia espaço para vacilar.
Conhecem a Lei de Murphy? Senão, ide pesquisar J Chegados ao Gilé temos um furo e toca a dar à manivela. Nada de incomum por aqui. De seguida o regresso a casa no Alto Molócuè onde só chegamos às 23h, depois de mais 3h45 de viagem.
Todo o dia em estrada de terra, com muitos ”óios”, “Jesus”, “Meu Deus”, “Minha Nossa Senhora”, “Senhor”, ou seja, se tivemos de dispensar Laudes e Vésperas, a presença de Deus foi sempre solicitada e sentida. Um dia cansativo. Um dia fantástico!
Nuno Perry

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