Às 05h30 era grande a azáfama
à volta do mata-bicho e na cozinha também, na preparação de sandes que
compuseram o farnel do dia.
Com apenas uma actividade para
desenvolver com os jovens do Centro Juvenil na terça, tiramos o dia de hoje
para visitar mais alguns locais de presença dehoniana em Moçambique e
conciliamos isso com uma visita à Reserva Natural do Gilé, criada em 1932 com o
objectivo principal de proteger o elefante e o rinoceronte negro.
A partida prevista para as
06h00, acabou por acontecer às 06h30 o que é óptimo, pois em 30 minutos houve
tempo para mudar um pneu, abastecer um dos carros (com bomba manual) e lavar os
pára-brisas. Todos a bordo e partimos com a particularidade de termos dois
padres aos comandos das viaturas: o nosso pastor voluntário, pe. Juan e o pe.
Messias, moçambicano e residente na missão do Alto Molócuè.
Arrancamos e após 10 minutos
de alcatrão entramos em estrada de terra. Só voltaríamos a sentir alcatrão às
22h30. Entre saltos e pulos ficamos espantados com a resistência das Toyotas
Hilux 4x4.
Pela estrada que liga a
Nacional 1 no Alto Molócuè, em Malua, seguimos em direcção a Uape, onde
entramos na Reserva Natural do Gilé após 3h30 de viagem. A expectativa era
grande pois apenas um de nós já tinha visitado uma reserva natural. No entanto,
tínhamos sido prevenidos ainda em casa que a reserva estava em fase de
repovoamento animal, devido a ter sido devastada pela caça indiscriminada, no
período da guerra civil, pelo que teríamos poucas hipóteses de vermos vida
selvagem.
Logo no posto de controle à
entrada da reserva, esta situação de míngua de vida selvagem foi confirmada
pelos guardas. De facto apenas recentemente foram introduzidos um bando de 5
leões e impalas. Em Setembro será a vez de aparecerem por ali girafas e zebras.
Considerando que a área da reserva é de 2100km2, ou seja três vezes a área da
ilha da Madeira pudemos adivinhar que cinco leões… nem vê-los. Mas perseveramos
J
E assim, percorremos 2h30 de
reserva sem avistar nenhum animal… parecia que eramos mais os que estavam
dentro dos carros do que na reserva. À falta da bicharada, deslumbrava a enorme
área de mancha florestal inabitada que recebendo os raios de sol matinal,
projectava uma luz que em todo este país nos fascina. Após este tempo chegamos
ao acampamento turístico da Reserva do Gilé que recebeu o nome de Acampamento
do Lice (4 tendas estilo safari) devido à proximidade do Rio Lice, um lugar
especial entre os Rios Malema e o Lice, pela sua particular beleza cénica, e
por ali perto passarem com frequência alguns animais, mas que hoje teimavam em
primar pela ausência. Como se diz por cá: “Nada!”.
Após uma paragem de 45m com
salto ao rio para chamar crocodilos ;) tivemos de partir pois o dia ainda tinha
muita estrada para palmilhar em direcção a Mualama, onde visitamos a paróquia
do Cristo Rei, antiga missão dehoniana estabelecida em 1948 e 5 anos depois
iniciavam-se as obras de uma grande igreja que hoje se apresenta em estado de
muito degradado (novamente aqui as nacionalizações e guerra civil tiveram o seu
impacto) mas que a respectiva afectação à diocese permitiu já a recuperação do
telhado, seguindo-se paredes, portas, janelas, tudo… tendo o pe. Rito Alberto
nos recebido entusiasticamente.
Dali saímos para Nabúri, para
visita a outra missão dehoniana, fundada em 1963 e designada paróquia de São
Paulo Apóstolo, com uma igreja humilde, e apenas uma casa, residência dos
padres.
Ainda antes de Nabúri, um
entroncamento fez-nos parar. Uma seta apontava “Pebane”. Era complicado. Mais
uns 90 ou 100km tornavam a viagem mais desgastante e o regresso madrugada fora
desaconselhado. Paciência.
A partida de Nabúri acontece
já com a tarde avançada não esquecendo que aqui às 17h30 já se faz escuro o dia
e às 18h está noite. O Gilé (cidade) é o destino e aqui chegamos já de noite
(19h00) não sem antes passarmos por pontes de troncos soltos, outras com a
falta deles e que requeriam toda a atenção dos condutores e uma mesmo que
obrigou à saída de um de nós do carro para ajudar na passagem pois não havia
espaço para vacilar.
Conhecem a Lei de Murphy?
Senão, ide pesquisar J
Chegados ao Gilé temos um furo e toca a dar à manivela. Nada de incomum por
aqui. De seguida o regresso a casa no Alto Molócuè onde só chegamos às 23h,
depois de mais 3h45 de viagem.
Todo o dia em estrada de
terra, com muitos ”óios”, “Jesus”, “Meu Deus”, “Minha Nossa Senhora”, “Senhor”,
ou seja, se tivemos de dispensar Laudes e Vésperas, a presença de Deus foi
sempre solicitada e sentida. Um dia cansativo. Um dia fantástico!
Nuno Perry
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